CARTA DE PRINCÍPIOS

As parcerias entre museus e escolas são uma realidade cada mais visível no mundo de hoje. Este fenómeno decorre sobretudo de uma nova consciência do papel da educação no contexto das alterações sociais massivas verificadas nas últimas duas décadas. Num mundo de competição global, intensificada pela extensão das redes de comunicação digital à generalidade dos países, e em todos os continentes, a prosperidade das nações é determinada pela sua capacidade para desenvolver projetos de educação entre as populações. Na nossa esfera de ação estamos particularmente atentos à formação de novas gerações de cientistas, com especial ênfase nas áreas STEAM. Esta é uma das razões porque a colaboração museu-escolas se tem manifestado com grande premência na relação com os centros interativos Ciência Viva.

É neste contexto de exigência social por mais e melhor educação – e, pela própria natureza tecnológica da mudança, de mais cultura científica e tecnológica – que surgem um pouco por todo o mundo, e em especial nos Estados Unidos, as primeiras museum-schools [museus-escola].

Os benefícios da cooperação entre sistemas formais e informais de educação estão claramente documentados na investigação educacional das últimas décadas. Os museus-escola resultam de uma necessidade de alargamento da missão educativa dos museus, através de um aprofundamento de parcerias institucionais com escolas, nuns casos, ou, noutros mais consolidados, como alternativa à oferta educativa formal das próprias escolas.

O enquadramento institucional dos museus-escola é, por isso, bastante flexível. Um museu-escola pode ser um museu com uma escola ou uma escola com um museu – ou pode mesmo não incluir nenhuma destas situações, mantendo sobretudo uma relação institucional continuada com uma ou várias escolas, e sempre alicerçada numa parceria sólida com instâncias do ministério da educação e dos municípios, e sempre também com a comunidade científica.

A procura de uma definição de museu-escola coloca, por isso, a tónica na cooperação institucional. Neste sentido, a definição mais consensual, em termos internacionais, é a de que estamos perante um museu-escola quando existe uma parceria institucional entre um museu e uma escola - a qual se deverá estender também às autoridades educativas competentes, na administração central ou local.

Em Portugal, a prática mais generalizada destas parcerias tem-se verificado sobretudo em projetos educativos realizados nas próprias escolas, como os projetos de ensino experimental das ciências apoiados pela Ciência Viva, com a cooperação de centros de investigação e de instituições de ensino superior. Embora essenciais para consolidar práticas de colaboração enquadradas por projetos, estas formas de cooperação não dão lugar a parcerias institucionais de forma continuada. Podem, no entanto, constituir-se como um embrião fundamental para o estabelecimento de estruturas educativas com as características de um museu-escola.

Nos últimos anos, sobretudo a partir de 2010, com a Escola Ciência Viva, no Pavilhão do Conhecimento, a Ciência Viva tem vindo a consolidar um modelo próprio de museu-escola, sob a designação de Escola Ciência Viva , com características específicas, resultantes da experiência portuguesa e do contexto nacional de desenvolvimento da cultura científica, e que têm sobretudo a ver com o exercício de responsabilidade científica por parte de centros de investigação e de instituições do ensino superior.

A experiência acumulada na escola Ciência Viva no Pavilhão do Conhecimento potencia, pela vasta experiência educativa da Rede Nacional de Centros Ciência Viva, uma generalização de um modelo próprio, flexível, dinâmico e adaptado às circunstâncias locais de implantação nestes Centros.

A experiência de desenvolvimento da Rede de Escolas Ciência Viva revela um conceito dinâmico e plural que não se enquadra numa definição formal aplicável de modo universal a todos os contextos. As Escolas Ciência Viva são, portanto, estruturas educativas adaptadas às características específicas das organizações parceiras que as constituem e do meio social e cultural em que se inserem.

Embora sem entrar numa rigorosa definição do conceito de Escola Ciência Viva, é aqui apresentada a Carta de Princípios com o objetivo de definir um conjunto mínimo de requisitos a observar na constituição de uma Escola Ciência Viva, reconhecida como tal pela Ciência Viva - Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica. Consideram-se Escolas Ciência Viva os projectos que cumpram os seguintes princípios:

Descrição

A Escola Ciência Viva é um projecto educativo, sem fins lucrativos, dotado de um programa de educação científica que transforma o currículo escolar num ambiente de aprendizagem com as características de um Centro de Ciência, tendo como estrutura organizativa uma parceria institucional alargada a escolas, municípios e instituições científicas e de ensino superior.

Missão

A missão da Escola Ciência Viva é apoiar os estabelecimentos de educação formal na promoção do ensino experimental das ciências e no desenvolvimento da cultura científica e tecnológica, para o exercício de uma cidadania plena e plural.

Valores

A Escola Ciência Viva privilegia os seguintes valores:

  • Cooperação com a Escola Pública. As Escolas Ciência Viva têm seguido uma orientação focada sobretudo na colaboração com escolas do ensino público.
  • Diversidade e inclusividade. A experiência das Escolas Ciência Viva tem assegurado a maior diversidade no estabelecimento de parcerias com escolas, independentemente do estatuto e condição social e económica de alunos e famílias. A preocupação com as questões de género está também patente na procura de equidade na participação de cientistas de ambos os sexos na interacção com os alunos.
  • Cidadania activa. As actividades das Escolas Ciência Viva são também extensíveis à comunidade envolvente, com grande participação de pais e encarregados de educação. Proporcionam desse modo oportunidades múltiplas para envolvimento dos cidadãos em eventos de aproximação entre a ciência e a sociedade, numa perspectiva de promoção de uma cidadania científica activa.
  • Desenvolvimento Sustentável. As múltiplas dimensões nas quais operam as Escolas Ciência Viva são um exemplo da contribuição dos museus e centros de ciência para a implementação dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (SDGs) propostos pelas Nações Unidas, particularmente o SDG 1 (Não à Pobreza), SDG 4 (Qualidade de Educação) e SDG 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis).

Espaços

A Escola Ciência Viva deve dispor de um espaço físico adequado ao ensino experimental das ciências, dotado de laboratório ou espaço similar, e de áreas de exposições interactivas de ciência.

Parceria com Municípios

A entidade gestora da Escola Ciência Viva deve estabelecer acordos institucionais com Câmaras Municipais para o funcionamento regular e continuado da Escola Ciência Viva, assegurando nomeadamente que o Município:

  • Colabora com todos os parceiros de forma a proporcionar aos alunos os meios adequados para um maior e melhor usufruto dos recursos educativos e das actividades de interesse social, cultural e educativo disponibilizadas pela Escola Ciência Viva;
  • Quando aplicável, assegura em colaboração com a entidade gestora da Escola Ciência Viva o transporte escolar a todos os alunos nas suas deslocações entre as escolas do Agrupamento e a Escola Ciência Viva;
  • Quando aplicável, assegura a todos os alunos as refeições escolares enquanto estes se encontram nas instalações da Escola Ciência Viva.

Parceria com Agrupamentos de Escolas

A entidade gestora da Escola Ciência Viva estabelece acordos institucionais com Agrupamentos de Escolas, os quais devem garantir que, durante o período de frequência da Escola Ciência Viva:

  • O Agrupamento assume todos os deveres, competências e responsabilidades legais que lhe pertencem enquanto estabelecimento de ensino da rede pública;
  • Os alunos, professores e demais funcionários do Agrupamento respondem, para todos os efeitos, administrativos, legais e disciplinares, às respectivas escolas do Agrupamento;
  • O Agrupamento colabora com a entidade responsável pela Escola Ciência Viva no desenvolvimento do Programa Educativo da Escola Ciência Viva.

Parceria com Associações de Pais

A cooperacção com associações de pais é um elemento decisivo para a adesão dos encarregados de de educação e respetivo acompanhamento da aprendizagem. Mas é também uma plataforma ativa de interação da Escola Ciência Viva com o meio envolvente, reforçando assim a sua relevância social e a capacidade de responder às expetativas das comunidades em que se insere.

Programa Educativo

A Escola Ciência Viva implementa um programa educativo próprio – o Programa Educativo da Escola Ciência Viva –, elaborado em colaboração com os Agrupamentos de Escolas, podendo incluir elementos do currículo de educação formal, abordados num contexto de formações muito prático, e em contato regular com instituições de investigação científica e de ensino superior.

O Programa Educativo da Escola Ciência Viva proporciona a todos os alunos atividades de aprendizagem de acordo com periodicidade, calendário e horário definidos em conjunto com os Agrupamentos de Escolas parceiras.

Como parte do seu Programa Educativo, a Escola Ciência Viva oferece, de forma regular, espaços de interação pessoal e presencial entre os alunos e profissionais de ciência e tecnologia, sob a forma de aulas, cursos avançados ou eventos organizados para o efeito.

Cultura científica

A Escola Ciência Viva desenvolve acções de promoção da cultura científica e tecnológica dos seus alunos, particularmente pela motivação para a aprendizagem científica que decorre de um contacto precoce e próximo com o conhecimento científico e os seus agentes.

Formação de Professores

A Escola Ciência Viva coopera com o Ministério da Educação e com os Departamentos Educativos dos Municípios parceiros nas áreas da formação de professores e de desenvolvimento de projetos educativos convergentes com o objeto e a missão da Ciência Viva.

Avaliação

A Escola Ciência Viva institui mecanismos de avaliação periódica e independente.

Acompanhamento Científico

A Escola Ciência Viva deve dispor de um órgão de aconselhamento científico. Compete-lhe pronunciar-se, a título consultivo, nomeadamente sobre a definição das linhas estratégicas e a programação anual da Escola Ciência Viva.

Cooperação

A Escola Ciência Viva assume o compromisso de cooperar através do intercâmbio e partilha de recursos e conhecimentos com as entidades que integram a Rede de Escolas Ciência Viva.

A Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica criou a Rede de Escolas Ciência Viva para promover a educação científica no ambiente de um centro de ciência, em colaboração com universidades, autarquias e centros de investigação, com um programa educativo que combina o ensino de todas as áreas do currículo nacional com os programas de aprendizagem de museus e centros de ciência. A rede está em progresso no seu desenvolvimento e implementação tendo em conta a abrangência relativa a toda a Rede de Centros Ciência Viva.

Embora os Centros Ciência Viva não sejam as únicas entidades apropriadas para a constituição de Escolas Ciência Viva, estes reúnem, na prática, elementos essenciais que os tornam particularmente adaptados para a criação deste tipo de estrutura educativa:

  • São espaços de inovação pedagógica, em sintonia com as correntes mais actuais da educação científica contemporânea, com especial destaque para o ensino experimental das ciências, a educação para as ciências e a matemática, prática e experiencial (hands-on), orientada por inquérito (Inquiry-based learning), e baseada em práticas de investigação e projecto.
  • Desenvolvem os seus próprios programas educativos, caraterizados por formações práticas que estimulam o pensamento crítico e a resolução de problemas, com base em abordagens multidisciplinares e integradas das áreas científicas, artísticas e humanísticas.
  • Têm uma forte ligação às instituições científicas e de ensino superior, como mediadores privilegiados na aproximação entre as escolas, a comunidade científica e a própria produção de conhecimentos, garantindo deste modo uma educação científica sempre actual e em sintonia com os mais recentes desenvolvimentos científicos e tecnológicos. Na maior parte dos casos, esta é também uma ligação de natureza institucional, já que centros de investigação, universidades e politécnicos são parte integrantes da governança dos CCVs, nomeadamente como membros associados.
  • Possuem equipamentos científico-pedagógicos de qualidade, com laboratórios, módulos interativos, exposições de ciência e objetos temáticos, que proporcionam uma oferta de actividades inovadora e diversificada para todos os níveis de escolaridade.
  • Mantêm uma relação próxima com as escolas e com os seus órgãos de gestão. Nas visitas escolares ou nos eventos programados especialmente para a população escolar, as escolas são uma componente essencial do público dos CCVs. Daqui decorre uma articulação muito próxima com os estabelecimentos de ensino.
  • Ligação institucional às Câmaras Municipais e órgãos de poder local, a qual proporciona formas de colaboração direta com os próprios departamentos municipais de educação.