O que são vacinas?
As vacinas são ferramentas, seguras e eficazes, que protegem as pessoas de contrair doenças infeciosas através do estímulo da produção das nossas defesas, os anticorpos. As vacinas ajudam também a impedir a transmissão destas doenças na comunidade, representando por isso uma das conquistas mais significativas para a saúde pública.
Os agentes patogénicos, como os vírus e bactérias, desencadeiam uma resposta específica no nosso sistema imunitário, que culmina na produção de anticorpos que apoiam a eliminação do agente infecioso. As vacinas contêm partes enfraquecidas ou inativas de um determinado organismo que queremos combater, ou instruções para a produção destes antigénios pelas nossas próprias células, desencadeando a produção de anticorpos e um sistema de memória.
Se no futuro a pessoa entrar em contacto com o verdadeiro vírus ou bactéria causadores de doença, o sistema imunitário irá “lembrar-se” deles e atuar rapidamente, protegendo a pessoa da doença – a pessoa fica imune. A imunidade geralmente dura anos e, por vezes, toda a vida. Mas a duração da imunidade varia consoante a doença e a vacina.
Quando alguém é vacinado, é muito provável que fique protegido contra a doença-alvo, no entanto existe um pequeno número de pessoas que não pode ser vacinado - como são exemplo os transplantados, os imunodeprimidos, alguns doentes crónicos e também os recém nascidos.
O motivo pelo qual estas pessoas não podem ser vacinadas está relacionado com o funcionamento do seu sistema imunitário, ou então porque podem desenvolver alergias graves a alguns líquidos utilizados como base para dissolver a vacina, os excipientes.
Porém, a vacinação não só protege quem é vacinado, como também aqueles que não podem receber a vacina. Quando grande parte da população já se encontra imune, o agente infeccioso tem dificuldade em difundir-se na comunidade e a probabilidade de infetar pessoas que não possam ser vacinadas é então mais limitada. A este fenómeno chamamos imunidade de grupo.
O que é a imunidade de grupo?
©️i3S - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde - abril 2020
Vacinas contra a COVID-19, como funcionam?
Décadas de trabalho científico permitiram o desenvolvimento e produção em tempo recorde das vacinas contra a COVID-19.
Diferentes farmacêuticas, empresas e instituições científicas têm trabalhado no desenvolvimento de várias vacinas contra a COVID-19. Todas trabalham sobre o mesmo alvo: uma proteína que só existe nos coronavírus, incluindo o SARS-CoV-2. Esta proteína chama-se espícula ( Spike em inglês), encontra-se na superfície do vírus e funciona como uma chave para este entrar nas nossas células. No entanto, por si só esta proteína não tem capacidade para causar doença. Uma vez que o nosso corpo reconhece a spike como um elemento externo, o que as vacinas fazem é induzir a produção de anticorpos contra ela, bloqueando esta “chave", impedindo que o vírus infete as nossas células e se multiplique.
As vacinas contra a COVID-19 foram por isso desenhadas para provocar a produção da Spike , ou para introduzir esta proteína (ou partes dela) no nosso organismo, desencadeando como resposta a produção de anticorpos e de células do sistema imunitário. Algumas destas células ficam na “memória” do nosso corpo e, se formos infetados, são rapidamente recrutadas para combater o SARS-CoV-2 . Outra vantagem da Spike é que esta é a proteína que desencadeia a produção de anticorpos mais potente.
Apesar de todas as vacinas disponíveis terem sido desenhadas para este alvo, o seu desenvolvimento baseou-se em tecnologias diferentes. Há três principais grupos de vacinas contra a COVID-19, dois que já estão aprovados - Vetor Viral e RNA e um próximo de uma aprovação - Subunidades.
Vetor Viral: utilizam um outro vírus modificado - o adenovírus - como veículo para transportar para dentro das células as instruções genéticas que vão levar à produção da proteína “Spike”.
RNA*: utilizam material genético do vírus que tem as instruções para fazer a proteína “Spike”.
Subunidades: utilizam a proteína “Spike”
*RNA, sigla do inglês ribonucleic acid , que traduzido para português significa ácido ribonucleico (ARN)
©️iMM, Janeiro 2021
As vacinas contra a COVID-19 na UE
Como se produziram tão rapidamente as vacinas contra a COVID-19?
O que é Ciência Fundamental?
A ciência fundamental é aquela que procura explicar o mundo que nos rodeia e que é movida pela curiosidade dos cientistas. É toda a ciência que procura produzir conhecimento, pelo conhecimento. Isto é, sem ter como objetivo imediato uma aplicação prática ou a solução para um problema. É graças à ciência fundamental que muitas vezes conseguimos anos mais tarde encontrar respostas a novos problemas. No caso da COVID-19, as décadas de investigação fundamental foram determinantes para o desenvolvimento de vacinas num curto espaço de tempo.
Ao fim de cerca de 9 meses começaram a ser apresentadas as vacinas contra a COVID-19, mas como é que foi possível se, em média, o desenvolvimento de novas vacinas demora vários anos?
Aqui fica "uma mão cheia" de razões:
Razão 1:
As peças essenciais que possibilitaram a rápida produção das vacinas contra a COVID-19 resultaram do acumular de conhecimento gerado ao longo de décadas.
Ao longo de vários anos, por vezes realizadas em paralelo, muitas descobertas foram acontecendo em diferentes laboratórios, graças ao trabalho de investigação fundamental de inúmeros grupos de cientistas, distribuídos pelo mundo.
As linhas que unem estas descobertas foram-se cruzando e a colaboração e a partilha - propriedades inerentes ao processo de construção de conhecimento - foram fundamentais para que todas estas peças estivessem “prontas a usar” quando o SARS-CoV-2 originou a pandemia em Março de 2020.
Sem estas linhas, ou percursos percorridos, que mais parecem um labirinto, nunca teria sido possível produzir, em tempo recorde, as vacinas contra a COVID-19.
Razão 2: A experiência acumulada sobre a produção de vacinas, contra outras doenças.
Razão 3: Por causa da gravidade das doenças causadas pelos vírus SARS-CoV e MERS-CoV (ambos da família de coronavirus), muitos laboratórios já tinham começado a desenvolver terapias, a identificar anticorpos e a testar estratégias de vacinação contra estes vírus.
Razão 4: As plataformas de produção de vacinas têm passado por avanços extraordinários.
Razão 5: Durante os ensaios clínicos houve três fatores que foram determinantes para encurtar do tempo de produção das vacinas contra a COVID-19.
- A partir de Fevereiro 2020, aproveitado o facto de algumas pessoas terem sido vacinadas, começaram conjuntamente os ensaios de Fase I e II . Este passo consiste na avaliação da segurança da vacina (Fase I), e na avaliação dos níveis de anticorpos e de imunidade celular induzida (Fase II) nas pessoas vacinadas que compõem o estudo.
Este método de avaliação combinada é frequentemente utilizado no desenvolvimento de outros medicamentos. Nestas fases, tipicamente testando diferentes doses e avaliada a necessidade de um esquema com uma só administração ou com duas doses.
A passagem direta para as Fase III também só foi possível uma vez que o seu financiamento estava já assegurado.
- Só é possível testar a eficácia de uma vacina, testando-a num número elevado de infetados. Neste caso, a disseminação do vírus foi tão vertiginosa que depressa se conseguiu testar as vacinas em dezenas de milhares de voluntários e determinar que eram eficazes na protecção contra a doença COVID-19 .
- A Fase de Regulamentação e Aprovação decorreu em paralelo com a Fase III dos ensaios clínicos.
Fase I Ensaios de segurança. Quais os efeitos secundários e como o tratamento é eliminado pelo organismo.
Fase II Ensaios para determinar a dose certa do tratamento com base na resposta imune induzida, nomeadamente na quantidade de anticorpos produzidos.
Fase III Ensaios para avaliar a eficácia. Fase em que são vacinadas milhares de pessoas em áreas com muita transmissão, para avaliar se ficam protegidas contra o vírus.
©️iMM - Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes,com Bruno Silva Santos, imunologista do iMM - janeiro 2021
©️iMM - Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, com Miguel Prudêncio, parasitologista do iMM - janeiro 2021
Vacinas contra a COVID-19 | FAQ´S
As vacinas são seguras ?
Sim, as vacinas são seguras, como demonstrado na investigação conducente à sua aprovação. Todas as vacinas passam por um processo rigoroso de avaliação da sua segurança e eficácia, antes que a sua utilização seja autorizada.
Como foi possível desenvolverem-nas tão rapidamente ?
Há vários motivos que justificam a rapidez no desenvolvimento destas vacinas. A tecnologia usada assenta em décadas de investigação em diferentes áreas (com a virologia, a imunologia, a química); as indústrias farmacêuticas envolvidas avançaram com várias fases ao mesmo tempo; as entidades reguladoras foram rápidas na avaliação dos processos; houve uma grande participação em termos de voluntários, que permitiu a análise robusta dos resultados.
O RNA do vírus pode alterar o nosso código genético ?
Não. O fragmento de ácido nucleico usado nas vacinas serve apenas para instruir as nossas células a produzir a proteína spike, que será depois reconhecida pelas células do sistema imunitário.
Porque é preciso armazenar as vacinas a temperaturas tão baixas ?
Porque o RNA é mais estável a estas temperaturas, que protegem as vacinas de degradação.
As crianças podem ser vacinadas ?
Estas vacinas foram testadas em adultos, pois as crianças não desenvolvem por norma doença grave e parecem também não contribuir significativamente para a transmissão do virus.
Tive COVID-19. Devo ser vacinado ?
Há já alguns estudos (pelo menos na versão pre-print) sugerindo que para indivíduos que já tenham tido infeção por SARS-CoV-2, uma dose de vacina será suficiente para elevar a produção de anticorpos a níveis protetores. Isto porque estes indivíduos terão já uma certa imunidade, que será potenciada pela dose da vacina. Tomando os anticorpos como exemplo, num indíviduo com infeção prévia haverá já memória, sendo que uma dose da vacina irá aumentar o nível destes anticorpos para níveis semelhantes aos observados após duas doses de vacinas administradas a indivíduos naives (que nunca foram infetados por SARS-CoV-2).
Quais são os principais efeitos secundários das vacinas ?
Dos estudos realizados e do acompanhamento em tempo-real da vacinação, não parecem haver grandes efeitos secundários. Há casos de fadiga, dores de cabeça, dores ou inchaço localizado. Nenhum estudo reporta efeitos secundários severos ou prolongados.
Porque são precisas duas doses?
A primeira dose prepara o sistema imunitário, dá as primeiras instruções, e a segunda funciona como um «boost», um potenciador da resposta. Assim, a resposta protetora será máxima após a segunda dose.
Porque é que são administradas com 3 semanas de intervalo ?
É o intervalo testado nos estudos realizados e tido como ótimo para o funcionamento da segunda dose. Em princípio haverá produção máxima de anticorpos após as 2 doses administradas com um intervalo de 3 semanas. Não se quer com isto dizer que a vacina não funcione com eficácia se um protocolo diferente for usado.
As vacinas contém o vírus ?
As vacinas aprovadas na Europa atualmente não contém o vírus.
Só vamos precisar de ser vacinados uma vez ? Ou será necessário repetir todos os anos ?
Não sabemos. Teremos que aguardar investigação nesta área para conseguirmos responder a esta questão.
Porque é que as variantes do vírus podem escapar à vacina ?
É possível que uma variante do vírus altere a conformação da proteína spike e por consequência o seu reconhecimento pelos anticorpos produzidos em resposta à vacina. Se isso acontecer, o vírus pode escapar à vacina.
Se for vacinado deixo de transmitir o vírus , caso seja infetado ?
Aparentemente não. A vacina parece proteger contra uma manifestação severa de COVID-19. É possível que os indivíduos vacinados sejam assintomáticos, mas consigam transmitir o vírus.
Porque precisamos de vacinar 70% da população ?
Este valor é o estimado para se atingir imunidade de grupo. A imunidade de grupo é importante pois limita a propagação da infeção, protegendo indivíduos que não possam ser vacinados.
Conversas com Cientistas em sessões online
A campanha digital Conversas com Cientistas decorreu de 20 a 30 de abril de 2021. Promoveu mais de 328 sessões realizadas com o apoio de mais de 120 cientistas de 20 Instituições nacionais.
A iniciativa disponibilizou sessões em Português e em Inglês para mais de 8856 participantes, de forma totalmente gratuita. Atingiu públicos diversos, tendo recebido participantes de norte a sul do país, das ilhas, de Timor Leste e de São Tomé e Príncipe.
Cada sessão estimulou o diálogo sobre questões relativas ao desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19, explicando e aprofundando o enquadramento histórico em torno do desenvolvimento da ciência, que permitiu garantir uma campanha de vacinação segura e eficaz em tempo recorde.
Foi âmbito destas sessões online que foram desenvolvidos a maioria dos conteúdos desta página, numa estreita colaboração entre diversos cientistas, de variadas instituições nacionais da área das Ciências da Saúde.