Objectivo: Marte

Ao longo do mês de Junho partirão três naves em direcção a Marte, para aproveitar a máxima aproximação entre o planeta vermelho e a Terra. O objectivo é a pesquisa de água e de indícios da existência de vida. Estas naves devem chegar ao seu destino entre Dezembro e Janeiro próximos, sensivelmente ao mesmo tempo de uma outra nave, japonesa, lançada em Julho de 1998.

Desde que em 1965 se receberam as primeiras imagens de Marte obtidas de uma distância relativamente curta pela sonda americana Mariner4, e após uma interrupção de quatro anos devida ao fracasso de duas missões consecutivas da NASA, o ano de 2004 converter-se-á assim no ano da exploração mais intensa de Marte

Depois destas estão previstas futuras missões da NASA. Em 2005 aquela agência enviará uma missão orbital para investigar a possível existência de água, estudando a superfície do planeta com um detalhe de 20 a 30 centímetros. Estão ainda por decidir duas outras missões da agência espacial americana onde serão testados vários tipos de tecnologias de aterragem.

Entre os enormes avanços sobre o conhecimento de Marte obtido por todas as missões já realizadas, uma coisa aprendemos até agora, é que no planeta não há possibilidade de sobrevivência de nenhum organismo que possa dar sinais de vida. Mais ainda, se algum dia existiu, os seus restos devem estar debaixo da camada de óxido e pó que formam a superfície de Marte. E deste ponto partem as missões da ESA e da NASA.

A Marsexpress  europeia utilizará um veículo orbital que girará em torno do planeta, com instrumentos que permitirão também analisar a constituição do planeta debaixo da superfície e uma sonda que aterrará e analisará amostras colhidas abaixo da superfície.

A missão Americana,  Mars Exploration Rover , lançará na superfície dois veículos em pontos diferentes que percorrendo cerca de 9 km, analisarão rochas ao detalhe. A estas missões juntar-se-á o satélite japonês  Nozomi  (palavra que significa desejo) cujo objectivo é o de estudar a alta atmosfera do planeta.

A sonda orbital Marsexpress explorando Marte.

O resultado de todas estas observações revelará, ou não, no planeta, indícios de existência de vida na actualidade ou no passado. Vão procurar-se rastos químicos da actividade biológica, por mais simples e remota que seja.

A questão é poder afirmar definitivamente que em alguma ocasião houve vida fora da Terra.

A sonda robótica Beagle 2 examinando o subsolo de Marte.

Relacionada com a busca de vida está a procura de água. O enigma que se põe é curioso: existem provas que em já existiu água em Marte, e em abundância, mas não existe rasto dela, aparte a que se encontra acumulada nos pólos. Portanto, onde foi parar a água que em tempos coloriu de azul o planeta vermelho? Afasta-se a hipótese da evaporação, pois a ser assim existiriam nuvens e a presença de vapor de água na atmosfera seria muito maior. É possível que a fraca força de gravidade, cerca de um terço da sentida na Terra, permitisse que a água se escapasse parcialmente para o espaço, mas existe a possibilidade de estar retida debaixo da crusta.Isto é o que vai explorar a Marsexpress, equipada com um potente radar.

A missão americana também realizará estudos sobre a água. Os dois veículos que explorarão a cratera Gusev e o Meridiani Planum, dois lugares onde se supõe que tenha existido água líquida.

O Mars Explorer Rover na superfície de Marte.

Parece um desperdício enviar tantas missões para Marte com os mesmos objectivos mas de facto as missões da ESA e da NASA, e em certa medida também a do Japão, são complementares e seria mais caro enviá-las em conjunto pois seria preciso recorrer a um foguetão lançador mais potente.

Se se cumprirem os objectivos destas missões talvez se possa falar em definitivo de vida alienígena no planeta vermelho. Mas as investigações dos próximos meses abrirão também o caminho a novas possibilidades. Não é em vão que o programa da NASA fixa explicitamente nos seus objectivos saber se Marte pode ser alguma vez habitável.

Os resultados das explorações trarão dados sobre os minerais, o clima e a influência dos ventos solares na atmosfera, que terão que ser tidos em conta se se pretender enviar uma missão tripulada. Se for feita, será perigosa, dispendiosa e de utilidade duvidosa, tendo em conta que qualquer robot pode fazer o mesmo ou mais que um humano. Mas os terráqueos são assim! E este será seguramente um passo importante no sonho da exploração espacial. E quem não gostaria de ser o primeiro a deixar a sua pegada no solo oxidado de Marte?

 

Adaptado de “La Vanguardia” Magazine, 18 Maio 2003-06-03

Imagens: ESA/Marsexpress, NASA/Mars Exploration Rover e “La Vanguardia” Magazine