Cassini descobriu que os anéis de Saturno têm oxigénio... mas não têm vida

Missão Cassini-Huygens confirmou que a presença deste gás não é, isoladamente, responsável pela vida

Há iões de oxigénio à solta em torno dos anéis de Saturno. Mas a descoberta, revelada pelas observações feitas pela sonda Cassini-Huygens, só vem confirmar que não bastam moléculas de oxigénio para que venha a existir vida num planeta, dizem investigadores das universidades do Michigan e do Kansas (EUA), em dois artigos publicados hoje na revista "Science".

O oxigénio molecular, o O2 que respiramos, forma-se quando dois átomos deste elemento químico relativamente raro no Universo se juntam. Na terra, a produção de oxigénio é o resultado da respiração das plantas, essencial para a sobrevivência dos animais. Mas, em Saturno, as moléculas de oxigénio surgiram sem vida, por meio da reacção química entre a radiação solar e as partículas de gelo presentes no anel A de Saturno.

O que se sabe dos anéis de Saturno vem principalmente das missões das sondas Pioneer e Voyager, respectivamente, em 1979 e 1977. Até aí, pensou-se que estes anéis, que têm uma espessura não superior a 500 metros e cores e luminosidades específicas, eram apenas três, ou seja, o A, o B e o C. Mas, depois destas missões, o número de anéis passou para seis: E, F e G. São estruturas complexas formadas por muitos anéis.

Agora é a sua composição que é avançada pela missão europeia e norte-americana Cassini-Huygens: "Estas descobertas vêm mais uma vez frisar que não é necessário haver vida para que o oxigénio surja. Se queremos achar indicadores que acusem a presença de vida noutros planetas, temos de saber o que devemos procurar ao certo", disse Hunter Waite, da Universidade do Michigan, citada num comunicado de imprensa.

Os investigadores confessam que pensavam que iriam encontrar nos anéis de Saturno apenas oxigénio atómico (com um átomo só), uma vez que estes anéis são formados por água em gelo. Mas a descoberta leva os investigadores a acreditarem que o oxigénio molecular ocorre mais vezes do que se pensava no nosso sistema solar.

Este facto faz com que os investigadores acreditem que possam existir mais atmosferas com oxigénio molecular, noutros planetas que não a Terra. Waite, responsável pela leitura da informação captada pelo espectrómetro de massa a bordo da sonda Cassini, espera que esta missão ajude a descobrir mais segredos da química dos anéis e das luas de Saturno.