Detectada Matéria Orgânica na Atmosfera de Titã

 

Durante a sua última passagem pela lua de Saturno Titã, no dia 16 de Abril, a sonda Cassini aproximou-se a 1027 Km da superfície do planeta e descobriu que a camada mais externa daquela atmosfera densa e nebulosa está cheia de hidrocarbonetos complexos.

Telescópio Espacial Spitzer

Créditos: NASA

Os investigadores consideram que a atmosfera de Titã pode ser um laboratório para estudar a química orgânica que precedeu e permitiu a vida na Terra. O papel da camada superior da atmosfera nesta “fábrica” de hidrocarbonetos é muito intrigante para os investigadores, especialmente se se considerar a diversidade de hidrocarbonetos detectados pela Cassini nesta passagem por Titã.

O espectrómetro de massa neutra e iónica detecta partículas carregadas e neutras na atmosfera. Permite obter informações valiosas a partir das quais é possível inferir a estrutura, dinâmica e história da atmosfera de Titã. Foram detectadas misturas complexas de hidrocarbonetos e compostos de carbono e azoto no leque de massas medidas por este instrumento da Cassini.

“Estamos a começar a apercebermo-nos do papel da atmosfera exterior no complexo ciclo do carbono que ocorre em Titã”, diz Hunter Waite, investigador principal deste espectrómetro da Cassini e professor na Universidade do Michigan. “Em última análise, a informação que estamos a recolher do sistema saturniano vai ajudar-nos a determinar as origens da matéria orgânica de todo o sistema solar”.

Foram observados hidrocarbonetos com até 7 carbonos, além de hidrocarbonetos com azoto (nitrilos). A atmosfera de Titã é composta maioritariamente por azoto, seguido de metano, o hidrocarboneto mais simples. O azoto e o metano formam hidrocarbonetos complexos, num processo induzido pela luz solar ou pela magnetoatmosfera de Saturno. Contudo, a quantidade de moléculas de hidrocarbonetos complexos nas camadas exteriores da atmosfera é surpreendente . Titã é muita fria e esperar-se-ia que os hidrocarbonetos complexos condensassem e chovessem na superfície.

“Os seres vivos são a fonte primária de produção orgânica na Terra e aquela com a qual estamos familiarizados, mas a pergunta chave é qual a fonte última de matéria orgânica no sistema solar?”, acrescenta Waite.

As nuvens interestelares produzem quantidades abundantes de matéria orgânica que vimos como a poeira e grão incorporados nos cometas. Este material poderá ter sido a fonte dos compostos orgânicos ancestrais da Terra a partir da qual surgiu a vida. As atmosferas dos planetas e dos seus satélites no sistema solar exterior, embora contenham metano e azoto molecular, estão desprovidas de oxigénio. Neste ambiente não-oxidante, sob acção da luz ultravioleta solar ou radiação energética de partículas (neste caso, resultado da magnetosfera de Saturno), estas atmosferas também podem produzir grandes quantidades de matéria orgânica, e Titã é o primeiro exemplo no nosso sistema solar. É possível que tenha ocorrido o mesmo processo para a formação de hidrocarbonetos complexos na Terra primitiva.

Esta foi a sexta passagem da Cassini por Titã, mas a exploração ainda mal começou. Estão previstas mais 39 passagens por este mundo estranho e remoto ao longo do resto da missão da Cassini. A próxima passagem por Cassini será no dia 22 de Agosto.

Fonte:  NASA

Tradução: Ciência Viva